cortina de luz em dobradeira
| |

Dimensionamento de cortinas de luz em Dobradeiras

Data de Publicação: 04/11/24

A Norma NR-12 permite a instalação de cortinas de luz na proteção frontal de dobradeiras. O item 4.1.2.1 a) no anexo VIII da norma afirma:

“cortinas de luz com redundância e autoteste, tipo 4 conforme norma IEC 61496, monitorada por interface de segurança, adequadamente dimensionada e instalada, conforme a norma EN 12622” (Brasil, 24)

A cortina de luz é um componente de segurança que é aplicado em diversas máquinas e automações, e pode ser adaptada em dobradeiras. A utilização de cortinas de luz não exime os demais sistemas de segurança exigidos pela norma NR-12.

A Braffemam não utiliza cortinas de luz em suas máquinas devido a série de dificuldades operacionais, as quais serão melhor apresentadas no decorrer do texto. O melhor sistema já desenvolvido para a proteção frontal em dobradeiras é o sistema de segurança de detecção multizona – ESPE /AOPD. Nesse artigo será detalhado o dimensionamento das posições e fixação da cortina de luz como proteção frontal na dobradeira.

Dimensões da apresentadas na norma EN 12622

A norma que estabelece a posição da cortina de luz é a EN 12622. Nela é demonstrado diversos exemplos de aplicação da cortina de luz, onde pode ser montada na vertical, horizontal ou em ângulo. Como é desejado que o operador esteja o mais próximo possível da linha de dobra, o sistema de montagem vertical é o mais indicado, e será essa a metodologia de montagem abordada nessa exemplificação.

figura 1
Figura 1 – Montagem na Vertical da Cortina de Luz (EN 12622, 2013)

Como podemos verificar na Figura 1, algumas dimensões mínimas a norma EN 12622 exige, independentemente do tamanho do equipamento. A fim de exemplificação, utilizaremos os dados e dimensões da dobradeira Braffemam PVH 30125s para dimensionar a posição da cortina de luz.

Posição da altura da Cortina de Luz

A altura mínima é 1600 mm e o comprimento efetivo da cortina deve ser de no mínimo 800 mm. Caso a base da mesa até o chão, medida a, possua menos do que 825 mm, o comprimento da cortina de luz deve ser compensado. A medida b deve ter no mínimo 50 mm.

Tempo de Resposta a parada

A distância é calculada levando em consideração o tempo de resposta do sistema, e a velocidade de aproximação de corpo ou partes do corpo. O tempo de resposta do sistema além de ser importante para esse dimensionamento, é utilizado para dimensionar o cálculo de escorregamento da máquina, item obrigatório da norma NR-12.

O tempo de resposta do sistema pode ser compreendido como o tempo que o equipamento leva do momento que é acionado uma emergência, até o equipamento parar. Esse cálculo pode ser feito de maneira teórica, somando todos os tempos de acionamento dos componentes, ou de maneira pratica, através de testes em equipamentos similares. Esse valor será utilizado em vários pontos do projeto de segurança.

Para descobrir o tempo de resposta teórico em um projeto de dobradeira, é necessário somar a resposta da válvula hidráulica (que esteja na linha inferior do cilindro e que garanta seu travamento), CLP de segurança, minicontator, cortina de luz, comprimentos dos cabos elétricos e qualquer outro componente por onde o sinal deva passar. Esses dados são muitas vezes complexos de serem adquiridos, porém abaixo é apresentado o tempo teórico de alguns deles:

  • Resposta para desenergizar a válvula: 0,050s
  • Tempo de resposta da cortina de luz: 0,013s
  • Resposta do CLP de segurança: 0,007s

Medição pratica do tempo de resposta

A medição do tempo de resposta pratico é muito mais preciso, pois é simulado a situação de emergência e parada, porém para o realizar é necessário o equipamento, o que muitas vezes não é possível durante o seu projeto. Abaixo é apresentado um modelo teórico e outro prático para realizar a medição do tempo de parada, além de valores de referência para nortear projetos que usam cortina de luz em equipamento similar.

Considerando que o óleo hidráulico é um fluido incompressível, podemos afirmar que no momento que a válvula hidráulica monitorada que controla a saída do óleo da parte inferior do cilindro fecha, o cilindro fica estagnado e o avental para. Logo, ao medir o tempo entre o acionamento de emergência, e o recebimento do sinal de fechamento da válvula, temos o tempo de resposta à parada do sistema.

Para fazer essa medição pode ser utilizado um osciloscópio digital, ligado na cortina de luz, e no feedback da válvula hidráulica da linha que recebe primeiro o óleo, da parte de baixo do cilindro. Como estamos medindo a saída do sinal de emergência da cortina de luz, deve ser adicionado o tempo de resposta interno da cortina de luz ao tempo medido no osciloscópio digital.

A fim de apresentar um valor balizador, para ser de referência a outros projetos similares, foi realizada a medição do tempo de resposta de Dobradeiras Hidráulicas novas fabricadas pela Braffemam e, ocorreram no laboratório da empresa. Foi utilizado os componentes descritos abaixo para a realização das medições:

  • Osciloscópio digital: Osciloscópio Digital FNIRSI-1014D
  • CLP de segurança: CLP de Segurança 8E 2S M1 Mosaic (Reer)
  • Minicontator: 2NA+2NF 24VDC AZ CWCA0-22-00C03
  • Válvula Monitorada: Válvula Direcional 4WE 6 F73-62 EG24N9K4
  • Comprimentos de Cabos: 5 metros de fios de cobre
  • Máquinas: Conforme tabela

Cada medição foi realizada 10 vezes, na tabela é apresentado o resultado médio, mais o desvio padrão. O tempo de resposta de cada equipamento pode ser visualizado na tabela abaixo. O tempo de resposta total é o tempo medido através do osciloscópio, somado a resposta da cortina de luz.

MáquinaSimilar MercadoTempo de Resposta (ms)
PVH 20100s8 X 2200166 ± 3
PVH 30125s6 X 3200177 ± 4
PVH 30160s8 X 3200216 ± 4
Tabela 1 – Tempo de resposta à parada de uma Dobradeira Hidraulica (Autoria Própria, 2024)

Vale ressaltar que as respostas do sistema apresentado na Tabela 1 são para equipamentos novos. Através dos resultados é possível verificar que o tempo de resposta varia em função do modelo do equipamento. É comum que o tempo de resposta aumente ao longo dos ciclos trabalhados, principalmente devido ao desgaste interno das válvulas hidráulicas. As normas não exigem uma margem de segurança encima do tempo de resposta, mas é interessante, já esperando possíveis desgastes futuros, para isso será aumentado o tempo de resposta em 10%, como margem de segurança ao projeto.

Distancia d da cortina de luz

O cálculo apresenta a distância do centro da linha de dobra até o centro da cortina de luz. Vale ressaltar que a norma EN 12622 exige que a distância mínima seja de 100 mm, mesmo em casos que o resultado do cálculo apresente resultados inferiores. O cálculo da distância é realizado através das equações abaixo:

d = (K x t) + C

t = t1 + t2 + t3 + Δt

d = Distancia da linha de centro da dobra até o centro da cortina de luz
K = Velocidade de aproximação de corpos ou partes do corpo
t = Tempo total de resposta do sistema de segurança
C = Distancia adicional, baseada no modelo de aplicação da cortina de luz e posição
t1 = Tempo de parada da Dobradeira (incluindo o sistema hidráulico e elétrico)
t2 =Tempo de resposta do sistema de segurança
t3 = A soma dos tempos de resposta restantes
∆t = Incerteza da medição

A velocidade K é a velocidade com que um corpo, ou parte de um corpo, pode se aproximar do risco. A norma EN 12622 exige que esse valor seja de 1600 mm/s para proteções que possam estar acima de 800 mm de distância do risco, e 2000 mm/s para proteções mais próximas do risco. Como em dobradeiras precisamos que as cortinas de luz estejam o mais próximo possível, a velocidade de 2000 mm/s deve ser considerada.

O fator C é um adicional de distância em função da capacidade de detecção dos feixes laser da cortina de luz escolhida.

Capacidade de detecção (mm)Distancia adicional C (mm)Iniciação do ciclo pela cortina de luz
≤ 140Permitido
> 14 ≤ 2080Permitido
> 20 ≤ 30130Não Permitido
> 30 ≤ 40240Não Permitido
> 40850Não Permitido
Tabela 2 – Distancia adicional C conforme EN 12622

O tempo t como descrito acima, é o tempo de resposta à parada do equipamento. Como citado acima, é interessante considerar a margem de 10% de segurança encima do tempo de resposta à parada do equipamento.

Representação da distancia mínima de instalação da cortina de luz da dobradeira, conforme norma EN 12622
Figura 2 – Dimensionamento da Cortina de Luz

A Figura 3 apresenta uma dobradeira com a proteção frontal corretamente dimensionada. Nesse exemplo a cortina de luz foi fixada na proteção lateral, evitando frestas que poderiam dar acesso a zona de risco. Foi utilizado uma cortina de luz com mais de 825 mm, com resolução de 14 mm. A altura de instalação foi de 1600 mm, conforme solicitado pela norma EN 12622.

Dobradeira com cortinas de luz sendo utilizadas como proteção frontal, seguindo o dimensionamento da norma EN 12622.
Figura 3 – Dobradeira com Cortina de Luz

Proteção Horizontal

A norma EN 12622 exige uma proteção horizontal entre a estrutura da máquina e a cortina de luz, de maneira que exista apenas um espaçamento mínimo entre a proteção horizontal e a cortina de luz. Essa proteção pode ser fixa, monitorada ou outra cortina de luz. Por ser uma posição que não atrapalha durante a utilização do equipamento, pode ser utilizado uma proteção fixa.

A proteção fixa é aquela que não consegue voltar a sua posição original sem a utilização de seus elementos de fixação. A distância 3 é normatizada pela EN ISO 13857 (ISO, 2021), porém na norma não existem um exemplo muito claro ou próximo da situação apresentada na Figura 2.

Como é uma região de fácil instalação de uma proteção fixa, pode ser utilizado um perfil L dobrado, fazendo com que a distância 3 seja igual ou inferior a 14 mm, pois essa é a menor medida de fresta apresentada na norma EN ISO 13857. A Figura 4 demonstra um exemplo da proteção fixa inferior da cortina de luz.

Proteção fixa solicitado pela norma EN 12622 junto com a EN ISO 13857, quando utilizado cortinas de luz em dobradeiras
Figura 4 – Proteção fixa inferior

Cálculo de Escorregamento

Esse procedimento é obrigatório a cada energização do equipamento, ou caso ele esteja funcionando a mais de 30 horas consecutivas (Brasil, 24). Consiste na verificação do tempo de resposta a parada do equipamento. Nos casos de máquinas com cortina de luz como proteção frontal, o cálculo pode ser feito através de um sistema de came e sistema eletrônico de monitoramento de segurança classificado como no mínimo de categoria 2, conforme norma ABNT NBR 14153.

No sistema de came, temos um trapézio com duas rampas de acesso a parte superior e um sensor tipo chave de fim de curso para realizar o cálculo de escorregamento. Normalmente o Sensor é fixo na estrutura, e a rampa se movimenta junto com o avental.

Desenho técnico ilustrativo do sistema de Cames solicitado pela norma NR-12 para dobradeiras
Figura 5 – Sistema de Cames para Cálculo do Escorregamento

Dimensionamento do cálculo de escorregamento

Para o cálculo ser realizado, é enviado um sinal para o avental descer em velocidade rápida, e no momento que sensor do cálculo é atuado pela rampa, é emitido um sinal de emergência à máquina. O avental deve parar antes que o sensor percorra o todo percurso reto da rampa, sem desacionar o sensor.

O dimensionamento da parte reta do sensor deve ser realizado através do tempo de resposta do sistema, e a velocidade máxima de descida rápida do equipamento. É recomentado a utilização do fator de 10% encima do tempo de resposta à parada.

O cálculo de escorregamento verifica se o tempo de resposta de parada está dentro do determinado e utilizado no projeto, assim garantido o correto dimensionamento das cortinas de luz.

Desenho 3D do sistema de cames que pode ser utilizado no cálculo de escorregamento solicitado pela norma NR-12
Figura 6 – Exemplo de sistema de cames que pode ser utilizado durante o cálculo de escorregamento
Desenho técnico com as cotas de escorregamento máximo durante o cálculo de escorregamento
Figura 7 – Escorregamento máximo para o Exemplo 3

A Braffemam possui um corpo técnico capaz de auxiliar em projetos de engenharia e segurança. No link abaixo é possível conhecer todas as exigências da norma NR-12 para Dobradeiras.

Escritor: Pedro Kucarz
Mestre em Engenharia Mecânica e de Materiais
Departamento de Engenharia Aplicada – Braffemam

Referencial Teórico

Brasil, Norma Regulamentadora No. 12 (NR-12). – 22 de 03 de 24. – 06 de 08 de 2024.

EN 12622 Safety of machine tools – Hydraulic press brakes EN 12622:2009+A1:2013. – [s.l.] : European Standards, 31 de 10 de 2013.

IEC 61496 Safety of machinery – Electro-sensitive protective equipment – Part 1: General requirements and tests [Livro]. – [s.l.] : European Standards, 2014.

NBR ISO 13857 Segurança de Máquinas – Distância de segurança para impedir o acesso a zonas de perigo pelos membros superiores e inferiores [Livro]. – Rio de Janeiro : ABNT, 2021

Nuova Elettronica DSP Laser. – Nuova Elettronica, 06 de 08 de 2024. – 06 de 08 de 2024.

Posts Similares